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domingo, 22 de junho de 2014

Segundo Dia

A receptividade e a  indulgência de amigos e amigas  à minha manifestação de disposição de cozinhar  deixou-me comovido.
Confesso que fui um pouco dramático quando disse que me arriscaria na cozinha e, se não desse notícias, seria porque algo teria dado errado.
Mas depois de quase dois meses afastado da comida caseira, o corpo e a alma começam a reclamar.
A opção, neste momento, passa a ser fazer as próprias refeições, pelo menos algumas.
Dizendo assim parece simples até o momento em que, como numa alquimia, deve-se partir para reunir os elementos e combiná-los na proporção certa, durante o tempo certo, a fogo baixo ou fogo alto, com mais ou menos água, com este ou aquele tempero, enfim, até o momento em que se deve reunir um mínimo de teoria com uma dose básica de prática.
Para o filósofo grego Empédocles a estrutura do mundo consistia da combinação de quatro elementos essenciais, Fogo, Ar, Água e Terra que ele chamava ainda de “raízes” e identificava com os deuses Zeus, Hera, Nestis e Aidoneu. 
Para Empédocles de acordo com as diferentes proporções em que os quatros elementos fossem combinados , resultariam as diferentes estruturas.
Pois bem, esta a tarefa a que me impus, terrena mas, também, com um fundamento filosófico.
No caso de preparar um prato de arroz, os Quatro Elementos , Terra, Ar, Água e Fogo estão bem distinguidos, sendo a Terra o próprio arroz.
Esclareço que não cheguei a pedir para que rezassem por mim porque isto introduziria um elemento místico ou religioso não de todo conforme às minhas convicções.
Mas se alguns amigos rezaram agradeço por isto.

Bem, o resultado da primeira tentativa já revelei e é o que podem ver ao lado
Desisti do arroz pois me pareceu que já exigia alguns conhecimentos avançados, especialmente em se tratando de uma variedade , de grão bem miudinho, da qual tenho poucas informações.
Pensei ser asiático e só Deus poderia saber como se comportaria no cozimento.
Por isto optei pela massa.
Segui algumas orientações de Oliver, o gato mais caseiro na face da terra, que nunca se afastou do meu lado.
Depois de tomar meia garrafa de vinho ficou razoável . 
Quero dizer, pelo menos, não parecia comida empacotada nem comida inglesa. 
Podia ser pior que ambas. mas era diferente.
É claro que muito menos era brasileira mas, pelo menos, tinha sido feita por um brasileiro.

Mas volto a dizer que me comoveu o apoio dos amigos e amigas. 
Foram muitas as sugestões, desde o tipo de vinho,  a escolha de outra bebida pois surgiu a idéia de que tinha leite na mesa ( de fato uma vela ) até a lembrança de consultar o google.
Devo, contudo, reiterar que o maior apoio partiu de Oliver.
Ficou o tempo todo ao meu lado me dando a sensação de que confiava que eu pudesse produzir um prato em condições dele próprio saborear.

De ontem para hoje, no entanto, achei que tinha assimilado alguns conhecimentos, enchi-me de coragem e parti para fazer o arroz
Só vou comentar que me surpreendeu e aprovei.
Até o visual, que podem acompanhar pela foto, evoluiu.
Já proponho-me, inclusive, a elaborar algumas regras, talvez um Manual de Sobrevivência na Cozinha Moderna
Duas já me ocorrem agora.
Diria que há dois tipos fundamentais de sobreviventes. 
De um lado, os que enfrentam situações extremas desprovidos das condições mínimas para se manterem vivos. 
Seria o caso dos náufragos, por exemplo.
E, de outro, pessoas que ficam sozinhas numa casa e embora tendo todos os recursos possíveis tem a sensação de que poderiam morrer de inanição.
Outra regra.
Há alimentos que se ultrapassarem o tempo recomendado no micro-ondas ainda assim podem ficar minimamente comestíveis.
Outros não.

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