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sábado, 23 de janeiro de 2021

VAPORETTO PARA MURANO - P.R.Baptista

 

Costuma-se dizer que a fotografia aprisiona o momento, congela o tempo.

 Em parte isto parece fazer sentido, do contrário esse momento, no vaporetto a caminho de Murano, só teria restado como uma imagem difusa, nebulosa, quase incapaz de ser reconstituída pela memória. 

Ao mesmo tempo, no entanto, esse momento tal qual se apresentou de fato já não existe. O que existe é uma angustiante tentativa através do recurso da fotografia de negar tanto seu desaparecimento como o nosso próprio. 

O trágico de mãos dadas com a ironia, é que a fotografia é a primeira a nos recordar desse desaparecimento

(P.R.Baptista )

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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

No espaço, no tempo

Percorrer as mesmas ruas, rever os mesmos cenários. recorrer os mesmos lugares nos dá um tipo de segurança,  a sensação de que nunca deixamos de estar presentes.
Permite-nos criar uma geografia própria do mundo, através de situações que revisitamos  com a familiaridade de estarmos em casa, de nunca termos nos afastado muito.
Esse sentimento, no entanto,  nos engana.
A ilusão que possamos alimentar de perenidade ao voltar aos mesmos lugares é frágil
Pois podemos voltar no espaço que vamos encontrar pouco modificado ou até inalterado, mas jamais voltaremos no tempo.
(foto P.R.Baptista)




sábado, 15 de agosto de 2015

Daniel Flores

Não sei quem é Daniel Flores até o momento em que, passando rapidamente pela feira de antiguidades de San Telmo, encontro num canto a exposição de suas fotos.
Não se pode dizer que é o melhor lugar para expor fotografias.
Como ainda é cedo ( em torno de 10 horas) ele não devia ter chegado há muito e as ia tirando de uma espécie de sacola e pendurando num mural.
Mas embora a forma inadequada de serem expostas ( seria bem melhor se estivesse numa galeria) o que não contribui para a sua valorização, não posso deixar de notar que seu trabalho é dotado de talento e de uma espécie de busca que só poderia precisar melhor se tivesse condições de o conhecer mais detidamente.
Entre as várias fotos de tango e de Buenos Aires, seus temas, uma me chama particularmente a atenção, por ter uma bicicleta como objeto central. Compro-a por 30 pesos
Não sei a data da foto, é um dado que poderia ajudar a situar a cena. De qualquer modo, não creio que seja antiga mas este é exatamente o clima que se sente. Lembra a atmosfera de um filme francês da década de cinquenta.
Aliás, Buenos Aires tem esta virtude tão cara para os melancólicos e nostálgicos.
Viaja-se no tempo embalado pelo som de algum tango que sempre toca vindo de algum lugar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

São Paulo ao Rés do Chão (1) - Brique do MASP

  
 Para descontrair  quem viaja a São Paulo e para os moradores que apreciam
briques uma boa sugestão é ir até o MASP onde aos domingos, abrigados pela laje monumental  de 70 metros do museu, projeto da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi,  agrupam-se barracas expondo objetos antigos e curiosidades.
É a Feira de Antiguidades da Paulista criada em 1979 com cerca de 120 expositores.

Ronaldo Lemes ao lado de sua banca
Entre os expositores encontro  Ronaldo Lemes que diz estar há 30 anos no local e ser avaliador, ou seja, ter conhecimento para estabelecer o valor de peças.
Quando revelo ser de Pelotas conta que esteve mais de uma vez na cidade a caminho de Jaguarão para buscar  antiguidades

Depois de conversarmos por um tempo sigo percorrendo o brique.
Mais adiante encontro Maria Elinda Comparotto, uma simpática senhora que  em meio a alguns outros objetos , expõe peças de porcelana, especialmente xícaras.

Entre esses outros objetos pode-se ver à direita da banca, na ponta, pequenas caixas em  madeira nobre, delicadamente trabalhadas , segundo me conta, pelo seu marido.

Maria Compararotto embrulhando a xícara

Neste momento esclarece que ele é falecido e sente sua falta e pode-se notar que diz isto com muita tristeza.
São as últimas caixas restantes que não serão mais produzidas e  logo serão todas vendidas.

Voltando às xícaras acabo comprando uma , japonesa.
Maria mostra-se cntente por ter feito duas vendas, a minha e a de um casal que chega logo a seguir, já no final da feira.
Enquanto ela fica fazendo o embrulho , afasto-me um pouco para olhar a banca ao lado.
                                                                                               
Depois sigo em frente .
Entre os objetos que encontro chama-me a atenção uma pequena escultura reminiscente de Leda e o cisne.
Apenas quando retorno ao hotel, no outro dia, preparando a bagagem, dou pela falta da xícara!
Depois de conferir e examinar  onde pudesse estar  concluo que não estava mais omigo.
Ocorre-me de ter esquecido no brique mas como fazer contato para saber?
Seguindo a examinar os papéis encontro a nota de compra!
Nela um nome e um número de telefone.
Ligo.

Leda e o cisne
Pergunto pela senhora do brique.
Dizem-me que o número é do consultório de seu filho.
Mas gentilmente me passam o nome da måe
Ligo uma vez e cai na caixa.
Depois de um tempo ligo de novo e, desta vez, ela me atende.
- É sobre a caixa, me pergunta mas já afirmando.
Já sabia da situação, certamente informada pelo fiho, e me esclarece que o embrulho com a xícara ficou com ela, na banca.
Combinamos que enviará pelo correio.
Além de ficar satisfeito ponho-me também a pensar nos detalhes das coincidências da vida.
A não ser pela notinha,  que quase deixo de pedir, não teria mais como recuperar a peça.
Descubro também que ao rés do chão existe uma São Paulo de gente simpática, gentil.
E fico contente que nem eles nem nós tenhamos nos separado, como é a tese de alguns, do resto do país, nem tampouco, como querem grupos que fizeram manifestações exatamente nesse espaço do MASP, que a ditadura militar tenha qualquer perspectiva de voltar.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

São Paulo, vista do alto

Estava pensando em como viver em hotéis pode tornar-se um hábito. 
Um hábito tão arraigado a ponto de poder tornar-se permanente.
Um exemplo bem próximo de nós é Mário Quintana que converteu um quarto do Hotel Majestic , em Porto Alegre, em sua residência.
Quando o hotel fechou foi despejado até ser convidado pelo jogador Falcão a ocupar um apartamento de sua propriedade.

Mas os exemplos são inúmeros.
Este costume, no entanto, pode significar também abandonar a idéia de uma residência fixa ou, pelo menos, de uma residência na qual passemos a maior parte do tempo.

Pensamentos com os quais fiquei por um tempo me envolvendo enquanto observava São Paulo do décimo-quinto andar do San Raphael Hotel no Largo do Arouche.
Confesso que observando a cidade deste ângulo ela me pareceu feia.
Um amontoado de prédios erguendo-se para cima como que procurando espaço para respirar.

Mas não há cidade que não tenha algum encanto, alguns atrativos.
Mesmo que se tenha que sair a procurar.
E na grande São Paulo certamente podemos encontrá-los embora nem sempre possam ser os que gostaríamos .

À tardinha caiu uma chuva e surgiu um vento agitando as cortinas.
Isto me causou uma inquietação como se houvesse uma outra presença no quarto.
Mas foi uma sensação passageira.
São Paulo não parece ser uma cidade muito propícia para ter espíritos que entrem em quartos de hotel.
Parece-me mais propícia a ter pessoas assaltadas mas isto ocorre no nível da rua, não assim tão alto.

Depois a noite chegou e pareceu-me melhor ficar observando a cidade aqui de cima de meu lar passageiro.
Pelo menos a cidade, assim iluminada, pareceu-me menos agressiva, menos árida.

E sem a presença de espíritos ou de assaltantes vou poder dormir mais tranquilo.



quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Café Anticolonial

Tali, à direita, segurando a bandeira da Palestina



Por sugestão de minha amiga Jackie Goulart fui parar no Café Anticolonial.

Ao chegar sou recebido por Tali, uma das organizadoras, que me informa alguns aspectos da promoção e, em linhas gerais, as propostas do movimento que congrega ativistas em diferentes frentes entre elas a do feminismo, racismo, homofobia e quaisquer outras situações nas quais seja exigida participação.

O ambiente do encontro é extremamente agradável com algumas apresentações de vídeo, de música, mostra de livros e exposições.

O local, o Palácio Cruz e Souza, antigo prédio do governo, privilegiado.

Para culminar um delicioso coquetel oferecido aos presentes.

Se alguém vacila em abraçar essas causas, eventos como esse, tão rico e acolhedor , logo tiram a dúvida.



terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Florianópolis, Livraria Livros&Livros e Jorge Ramos

Jorge Ramos com sua exposição na rua




Em minhas periódicas visitas a Florianópolis procuro rever alguns lugares conhecidos.
Um deles, de minha especial predileção, sempre foi a Livraria Livros&Livros na rua Jerônimo Coelho no centro
Mas desta vez, um susto.
Ao chegar ao local encontro uma loja.
Ainda circulo um pouco pela volta para me certificar de que estava no local certo.
Estava.
É a segunda vez que experimento essa sensação de " estranheza" . Na primeira que relatara em outro momento e que transcrevo abaixo, se dera com relação ao "sumiço" do subsolo da livraria.
Mas, desta vez, tratava-se da livraria inteira.
Acabo me informando mais tarde, pesquisando, que ela reabriu no campus universitário.
Pequeno consolo.
Sua existência no centro tinha um significado especial e seu desaparecimento é irreparável.
Já retornando do local encontro , numa esquina próxima, a exposição na rua de Jorge Ramos ( foto acima)
Aproximo-me e, em pouco tempo,  estamos conversando animadamente.
Seu trabalho, até pelo tema, marinas, chama-me a atenção e acabo comprando dois trabalhos.


Relato feito há uns 3 anos:

EM QUE SE FALA DE MÚSICA, DE CICLISMO, DE BARCOS E OUTRAS COISAS SEM IMPORTÂNCIA.
Volto a Florianópolis pra tratar de assuntos particulares.
Mas até por ter morado durante um ano e ter voltado inúmeras vezes, mantenho com a cidade uma relação mais próxima que me permite, ao mesmo tempo, ir descubrindo coisas novas e reencontrando reminiscências.
Isto torna a cidade especial e considerando sua beleza natural e seu encanto próprio, um lugar prazeiroso de estar.
Vinha fazendo mentalmente algumas anotações, no primeiro momento um pouco dispersas, isoladas umas das outras mas, aos poucos, pareceu-me ter sentido reuní-las todas no mesmo relato.
E o momento de iniciar surgiu de forma bem propícia.
Sentado numa mesa de café da livraria Livros & Livros , cercado obviamente de livros, vejo à minha frente, penduradas na parte de cima da entrada, da esquerda para a direita, fotos de Kafka, João C. Melo Neto ( escrito assim), Adélia Prado, Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges ( de perfil), Ezra Pound ( envelhecido, recostado num sofá) , Jean-Paul Sartre ( ainda jovem segurando com a mão um cachimbo junto à boca) e, na extremidade direita, Carlos D.Andrade ( escrito assim).
De onde estou posso ver os títulos de alguns livros.
Numa estante na entrada títulos onipresentes certamente porque, além de terem se tornado clássicos, não pagam direitos autorais. Kaffa ( A Metamorfose), Agatha Christie, Dostoievsky ( Crime e Castigo), Memórias de um Sargento de Milícias ( Manuel de Macedo) e assim por diante.
 Preciso dizer mais algumas coisas desta livraria.
No primeiro dia em que vim estava à procura de um cyber.
Lembrava-me, alguma vez, ter recorrido a ele.
A livraria me é familiar, fica na subida, de quem vem pela Felipe Schmidt, da Jeronimo Coelho. Desta vez, no entanto, para minha surpresa, não vi nem sinal do cyber dentro da livraria.
Ao procurar saber se ele tinha sido fechado, recebi dos empregados a informação de que ele não existia nem tinha existido.
Ainda perguntei se não havia um subsolo e a resposta, novamente, foi negativa.
Quando voltei à rua, estava perturbado e permaneci assim até o outro dia quando decidi voltar. Sentei-me numa mesinha do café e puxei conversa com um homem, na mesinha ao lado, que me pareceu ser um frequentador antigo.
Indaguei-lhe sobre o cyber mas, ao me responder que também não sabia de sua existência, meu desespero aumentou.
Uma sugestão sua, no entanto, deu-me esperança.
Disse-me para falar com o dono da livraria que circulava por ali naquele momento.
Conforme verifiquei depois sua presença era eventual.
Interpelei-o sobre a questão e, para grande alívio, confirmou-me a existência do cyber.
Só que isto era coisa já de uns 4 anos.
Explicou-me que o retorno do serviço não era compensador, falou-me também da dificuldade de manter a livraria.
Fiquei um pouco entristecido pois a oferta de cybers é muito pequena em Florianópolis e chegam a cobrar até 4 reais por hora.
Além disto o local era muito apropriado pois podia-se aproveitar para olhar os livros e tomar um café. De qualquer forma sentia-me redimido.
Desta vez quando saí à rua parecia que o mundo estava mais transparente, menos ameaçador.
Saí sem medos, sem temores de riscos insondáveis e ocultos .
Poderia falar mais da livraria Livros & Livros.
Parece que ali reúnem-se, além de frequentadores que vão à procura de tomar um café ou um chá acompanhado de algo para comer, pequenos grupos cuja conversa gira em torno de assuntos com algum fundo cultural.
Numa de minhas visitas à livraria me aproximei de um destes grupos para sondar o grau de comprometimento que tinham com estes assuntos.
Perguntei sobre a literatura local e me indicaram alguns nomes. O que mais me ressaltaram foi o de Jaime Hammes.
Indicaram-me também um livro.
Um dos que estava à mesa disse-me pertencer à Academia Catarinense de Letras mas, ficou-me subtendido , que pela autoria de livros sobre política.
Aproveitando que estava numa livraria procurei pelos livros mas não os havia.

sábado, 29 de novembro de 2014

Tucumán con Esmeralda



Minhas viagens não são viagens, são obsessões.

Preciso voltar às mesmas cidades e, em cada cidade, aos mesmos lugares.
Aos mesmos bares, às mesmas livrarias, às mesmas praças, às mesmas ruas e esquinas e paisagens.
Tocar as mesmas coisas, pisar as mesmas pedras, ter a sensação que ainda faço parte do mesmo mundo.  

Preciso me sentir como se tivesse vivido nestes lugares a vida inteira, preciso ser parte deles até que neles me apontem e digam que me conhecem, até que ali procurem por mim. .
Não importa que sejam lugares anônimos, aliás quanto mais anônimos mais serei parte deles e serei eu mesmo.

E se me sentir à vontade para sentar à uma mesa, pedir um café e me pôr a escrever algumas linhas , isto pode ser o início do caminho para a eternidade e para a liberdade.

Por isto volto constantemente ou nem chego a sair destes lugares, que às vezes são lugares imersos na sombra e na melancolia, à espera que alguém vindo da rua entre pela porta como uma revelação, envolvido numa luz radiante, e às suas costas se abra um grande caminho de vidência e felicidade.

P.R.Baptista
Buenos Aires

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Festival de Jazz de Pelotas




Pelotas acaba de vivenciar, durante 3 dias, uma lua de mel do jazz com a cidade.
É o tempo que durou o Pelotas Jazz Festival ( traduzindo, Festival de Jazz de Pelotas) , terceira edição de uma proposta que surgiu em 2010 por intermédio do Clube de Jazz a partir das "jams" mantidas pelo grupo , de fato um quinteto, formado por Daniel Zanotelli (saxofone e flauta), Guilherme Ceron (baixo), Renato Popó (bateria), Gustavo Otesbelgue (guitarra) e Eduardo Varela (piano), todos músicos pelotenses.
A eles o mérito da iniciativa  interrompida durante 2011 e 2012, retomada em 2013 e consagrada este ano.

foto Marcelo Soares
Na edição deste ano o evento contou com um espaço privilegiado incrustado no centro histórico da cidade com a destinação para sua realização não só do magnífico Theatro Guarany  mas de uma área externa constituída pelo quarteirão à sua frente que se denominou Rua do Jazz.
Entre os artistas que se apresentaram grandes exponentes da música brasileira como João Bosco, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos.
Um evento que se destina a ficar, supõe-se agora definitivamente, como um marco da maior expressão cultural.



video Marcelo Soares

terça-feira, 18 de novembro de 2014

"O Sol nascendo prá mim ! "

foto Marisa Goulart
Esta é a rua da Marisa.
Se acorda cedo a vê vazia como nesta foto e quando o Sol desponta, parecendo querer invadir a rua, é ela que o recebe.
Como diz é " o sol nascendo prá mim ! " 

Neste momento a rua parece deixar-se ficar em comunhão com o universo, a ausência de seres humanos aumentando a sensação de total integração com um mundo transcendental.

E pode-se pensar que de todas as ruas do mundo, neste momento, a rua de Marisa, na minha cidade, é a mais iluminada de todas, tomada por uma luz sideral, como se anunciasse o nascimento de um tempo inteiramente novo no qual, ao fim, todos emergissem de suas casas num estágio superior de suas existências.

Neste momento, contudo, toca um despertador, um carro passa, um transeunte surge na esquina, a primeira janela se abre e, aos poucos, à medida que o mundo humano volta a ocupar seu espaço, a rua de Marisa já não é só sua e a beleza e a transcendentalidade de poucos minutos antes, começa a perder importância.

Até que, por fim, desfeito o encanto, cabe ficar esperando pelo outro dia quando, de novo, nossas esperanças e nossos sonhos de eternidade possam voltar a reviver.  

P.R.Baptista


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Rio, até mais !



Há basicamente, entre todas existentes, dois tipos de cidades no mundo.
As que tem e as que não tem mar e, especialmente, praia e, mais especialmente ainda, praias atraentes.
Isto é o que distingue no Brasil, por exemplo, o Rio de Janeiro de outras cidades como São Paulo, Belo Horizonte , Brasilia e Curitiba ou, considerando as que tem algum tipo de praia, Porto Alegre.     
Ou que a distingue, no exterior, de Londres, Paris, Praga e Madri por exemplo. 
É também o que a aproxima de Montevideo, Florianópolis, as capitais nordestinas, Los Angeles, Lisboa, mantendo, contudo, o Rio, uma certa singularidade pela magnífica beleza natural de suas praias inseridas dentro de um ambiente fortemente urbano. 
É preciso também considerar o clima que no Rio permite frequentar a praia o ano todo.

No caso do Rio esta relação assume ainda um aspecto todo especial pelo fato de ser uma metrópole que mantém todas as relações de uma grande cidade e de ter sido, a reforçar isto, capital do Império e da República.
Ou seja é uma cidade econômica e culturalmente muito importante.
Todos estes aspectos ajudam a entender a cultura dentro da qual se movimenta o carioca.

Ao final de semana, já na manhã de sábado, começa lentamente um movimento de moradores que vem de todos os locais, de metrô ou outras formas de transporte, para concentrar-se nas praias da Zona Sul.

Chegar cedo na praia de Copacabana permite acompanhar estes movimentos.
Sento na mesa de um dos barzinhos e tranquilamente, a beber primeiro água de coco e depois cerveja. vejo um mundo mover-se à minha frente.
Um verdadeiro filme.

De início chama-me a atenção um grupo de quatro pessoas, aparentemente dois casais, que chegam ocupando uma mesa de frente para a praia na qual se acomodam olhando o movimento.
Depois a mãe que chega trazendo a filha de meses no carrinho, pede alguma coisa para beber e fica por ali um tempo dando atenção à criança.



Enquanto isso uma fila de vendedores ambulantes vai passando à minha frente vendendo óculos, bijuteria, chapéus, cangas, amendoim, um desfile sem fim.
Um destes vendedores é Rodrigo vendedor de cangas.
Enquanto fica por ali organizando seu material , uma verdadeira loja que carrega em cabides sobre os ombros, converso com ele. 
Veio da Bahia, de Feira de Santana, por ocasião da visita do Papa e não retornou.
Mora na Ilha Grande. Deixou a mulher e filhos para trás mas diz pretender trazê-los assim que for possível. 
É um escravo da sorte, diz não saber quanto lhe fica de dinheiro cada dia, não é difícil supor que não pode adoecer.


Ficaria ali o dia inteiro, observando este desfile de tipos, de situações, de casos de vida.
Conversando com cada pessoa, tentando acompanhar e entender estes universos em que se movimentam os seres humanos.

Enquanto isso, no meio da praia numa barraca cercada de utensílios e objetos, tremula a bandeira do Flamengo.
É a bandeira da nação rubro-negra.
Devem pedir passaporte para quem quiser aproximar-se.



Preciso no entanto voltar, a viagem é daqui a pouco.
Os observadores do mar já se foram há bastante tempo e no espaço em que se encontravam restaram as mesas e as cadeiras vazias.  
O cenário vai mudando, a vida vai passando.
Ainda penso em ir caminhando até a estátua de Drummond de Andrade, não é longe, na direção de Ipanema.
Mas esta forma que encontraram de homenagem me deixa um pouco deprimido.
Fico pensando como o poeta reagiria, afinal não é algo que lhe consultaram em vida.
Acabo, assim, desistindo. 
Mas esta manhã, anódina manhã na vida carioca, ficará registrada a partir de agora para sempre, nesta espécie de memória, resistindo ao desaparecimento das coisas, viva, muito viva, tão viva quanto pode permanecer tudo aquilo que nos rodeia, tudo aquilo que amamos e não queremos perder.
Rio, até mais! 


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Manhã Carioca















É cedo no Rio.

Na Cinelândia  os cariocas começam a dedicar-se  a mais um dia de atividades retomando suas rotinas.
Nos bares é o momento  de desempilhar as cadeiras e pô-las na rua, fazer as faxinas e tomar as primeiras providências necessárias ao andamento dos negócios.
Zeloso do brilho de seus sapatos um senhor, de terno, coloca-os aos cuidados de um engraxate, antes de seguir seu caminho para o expediente.

O dia , nublado, é agradável e o  clima pode ser  entendido como ameno nesta manhã de primavera.
Mas sempre será melhor no inverno.

Ontem à noite o Flamengo foi derrotado em Belo Horizonte para o Atlético, 4 x 1 .
É o assunto do dia.
Um colega de curso, carioca, flamenguista , me conta que em seu prédio o porteiro imita um galo quando ele passa. 
O símbolo do Atlético, é bom lembrar, é um galo.
Ele se diverte contando.
Eu tenho que achar graça.

Enfim, o Rio vai levando sua vida de ex-capital do Império e da República.
Parece sem pressa como se desfrutasse de uma sabedoria própria que um visitante eventual talvez não consiga perceber num primeiro momento.
Mas, pelo menos, deve-se tentar.









A mão estendida de Carlos Gomes


Entre o hotel na Cinelândia e, bem perto ,  o local de um encontro de jornalismo, passo a todo momento pela frente do Teatro Municipal no Rio.
 Carlos Gomes está sempre ali, o braço esquerdo estendido para o lado na posição, não cheguei a concluir, de convidar para o público entrar no teatro ou, talvez, de sinalizar à uma orquestra imaginária o início de um concerto.



Enquanto isso uma pomba ,à qual estas dúvidas devem parecer irrelevantes, aproveita a cabeça da estátua como ponto de descanso e de observação.

Ou talvez interprete que o  braço assim estendido é um convite para que os pombos encontrem ali um lugar de pouso.

Enfim, divagações irrelevantes de quem talvez preferisse estar em Pelotas sentado no Central Café na companhia da Maga e de amigos..

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O TÚMULO DE MARX



túmulo original
Ainda tenho que escrever com mais detalhes sobre minha visita ao túmulo de Marx em Londres.

Uma "epopeia" que entre pegar o metrô, chegar ao cemitério, percorrê-lo e, depois, retornar, me tomou um dia inteiro.

O túmulo está no cemitério de Highgate ao lado de Waterlow Park, ao norte de Londres. A estação de metro mais próxima é Archway.

Contam-se histórias sobre o cemitério entre elas a da existência de um vampiro, "O Vampiro de Highgate" .

O cemitério é mantido por contribuições a começar pelo ingresso ( 4 ou 5 libras) que é cobrado.

O que me pareceu mais relevante enquanto permaneci no local foi a presença de muitos visitantes . À uma dada altura me foi dada a informação que o local do busto não é o local original da sepultura. Saí, então, à procura do local original e descobri, logo após, que outras pessoas faziam o mesmo.

Não havia, contudo, quaisquer indicações muito claras.  

Estas pessoas, portanto, ficavam rodeando, andando de um lado para o outro, à procura da tumba.

Até que, finalmente, alguém acenou e todos correram ao local onde, de fato, encontrava-se, ao nível do chão, uma lápide, quebrada, com as inscrições dos nomes, bem apagados, de Marx e sua mulher.
Ao redor da tumba se aproximaram , então, as pessoas que circulavam por perto procurando encontrar o local.
Uma delas, uma mulher, que se postou ao meu lado, fazia então movimentos de reverência como se estivesse diante de um local sagrado. 
Na oportunidade encontrei também, em meio aos visitantes, um brasileiro, carioca, professor universitário, me lembro que de História e fiel seguidor de Marx e do socialismo.
Ficamos tirando fotos um do outro e sempre que me cabia tirar ele levantava o braço com o punho fechado. 

A visita apresentou também alguns incidentes bem literários os quais, mais adiante, ainda poderia relatar. 
Como a presença de uma jovem, loira, muito atraente, que perambulava pelo cemitério e que tinha nos orientado para encontrar o túmulo original. 
Mais tarde, quando já estávamos, eu e meu amigo, nos encaminhando para sair ela reapareceu mas, desta vez sem se dirigir a nós passou e, seguindo adiante, desapareceu por uma das alamedas do cemitério de uma forma que parecia estar convidando a ir com ela.
Não seria, sob a aparência de uma linda jovem, o Vampiro de Highgate ? .
Confesso que até hoje me pergunto se não deveria tê-la seguido e já estava meio encantado quando meu amigo me puxou pelo braço e me disse: vamos embora, vamos tomar uma cerveja.
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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Manequins

Tenho uma atração por vitrines.
Quando menino saía, à noite, com meu pai e minha mãe, para admirá-las.
Na época isto era um costume da cidade pacata, quase um ritual principalmente dos fins de semana quando as ruas ficavam repletas de gente que saía a passear.
Mas ainda hoje estou sempre procurando algum elemento novo.
Confesso, é bem verdade, que olho de um modo muito crítico o apelo ao consumismo que está fortemente presente em todas elas.
Mas não posso deixar de ser atraído pelo lado estético, particularmente com relação ao reflexo que se obtém em algumas situações provocando uma superposição de planos cada qual mostrando um lado particular da realidade.
E quando há manequins nas vitrinas isto me causa um fascínio misturado a uma certa inquietação pois tenho às vezes a sensação de que eles não estão inteiramente inertes.
Também me atrai ter meu vulto, muitas vezes, aparecer escondido em meio ao reflexo da vidraça.
É uma forma meio fantasmagórica de estar na cena.
Mas o que eu imagino é estar eu próprio no lugar de um manequim, encarando os transeuntes, e, de modo súbito, fazer inesperadamente pequenos movimentos, como simplesmente fechar os olhos, para assustá-los.  


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O Céu em Londres


O céu em Londres é permanentemente cruzado por aviões, vários, como se a Esquadrilha da Fumaça estivesse se apresentando.
Em alguns momentos são tantos que provocam o efeito que se vê na foto em Trafalgar Square.
Mas não se ouve, pelo menos no centro, nenhum ruído dos motores dos aviões que passam alto sendo, portanto, um espetáculo silencioso.
E é também, ao final, uma espécie de atrativo para o olhar do viajante, sempre atento a tudo que lhe pareça ser diferente do mundo ao qual está acostumado.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Paris, uma Pelotas européia?

As cidades européias, especialmente Paris e Londres, com o incremento considerável de viagens de brasileiros, passaram a ser maciçamente motivo de deslumbramento e fascinação tornados públicos através de fotos e palavras postados nas redes sociais.
No caso de Pelotas esta relação toma uma feição muito própria em razão do conceito, frequentemente manifestado, da cidade ser uma espécie de sucursal cabocla da capital francesa.
Mantemos até mesmo, com sua torrezinha de ferro assomando por cima do Mercado Central, um simulacro da torre Eiffel a simbolizar, de forma ingênua, esta vontade de declararmos nossa consanguinidade.
Mas, a seguir uma certa lógica, também não poderíamos considerar Paris uma Pelotas européia?
O que se vê aqui , parece fazer sentido, também se veria lá, como se Pelotas e Paris fossem uma o espelho da outra, nas virtudes e nos defeitos.
E quando apontamos , por exemplo, o desleixo da nossa população em jogar lixo na rua é no sentido de ser um procedimento próprio de quem não assimilou inteiramente os padrões europeus de urbanidade que teriam de ser almejados..
Esta linha de raciocínio, no entanto, pode nos levar a contradições.
Num dado momento pretendemos ser europeus, parisienses em particular, por aspectos da arquitetura e da cultura que insistimos em chamar a atenção que lembram o Velho Mundo, mas, ao mesmo tempo, persistem em nós traços que carregamos e que nos afastam dessa excelência.
Estes traços, como fazem alguns , podemos atribuir aos portugueses, aos nossos olhos por vezes uma espécie de europeus menos evoluídos, aos negros ou aos  índios, dependendo da oportunidade.
Seja como for conspurcam a pureza de nossas origens européias franco-anglo-saxônicas.
Em razão deste entendimento confundia-me, portanto, toda a vez que encontrava uma situação na qual estes aspectos se mostravam contraditórios.
Ainda não sei como explicar, por exemplo, o costume francês de fumar de forma ostensiva e intensamente em todos os lugares.
E muito menos o de jogar as pontas dos cigarros por toda a parte.
Há cinzeiros até nas ruas, nas calçadas, para contornar este hábito mas a preferência pode recair, como na foto, em lugares pouco indicados transformados em cinzeiros públicos.
Fico, então, sem saber.
Seria este um costume de "primeiro mundo"  a ser imitado?
Ou mantemos a forma cabocla que temos progressivamente assimilado de dar destino adequado aos tocos de cigarros, fumar apenas em lugares autorizados ou nem fumar?
E me pergunto.
Seria Pelotas uma Paris brasileira?
Ou Paris uma Pelotas européia?

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

No coração de Koln


A Catedral é a grande referência visual e histórica de Colônia (Koln)

Localizada no coração da cidade bem junto da zona antiga ao lado do rio Reno serve como um ponto de afluência, entre outras coisas, para jovens e turistas que ficam sentados nas escadarias.

Ao se chegar em Colônia atravessando a ponte Hohenzollern e se sair da estação de trem ( Köln Hauptbahnhof - Hbf) dá-se de cara com a catedral.

Andando ao redor se não nos chamarem a atenção pode-se não perceber à um canto um dormente de madeira.

As inscrições das placas esclarecem que pertenceu ao antigo leito ferroviário que servia, saindo da estação de Colônia a poucos metros dali, para os trens levarem os judeus aos campos de concentração. Um marco talvez muito singelo para a dimensão da tragédia que procura lembrar.

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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

" Hôtel La Louisiane "


"Hôtel La Louisiane", onde Simone de Beauvoir viveu entre 1943 e 1946, os anos mais profícuos, a poucos metros do boulevard Saint- Germain.
Aos 35 anos, publicou o seu primeiro romance, "A Convidada". 
Jean-Paul Sartre vivia no mesmo andar, ao fundo do corredor. 
Por momentos , durante o tempo em que estive no hotel, parecia-me  sentir a presença de Simone percorrendo suas dependências. 
Com Sartre não tive a mesma impressão, talvez já tivesse se afastado para sempre.
Em alguns casos esta presença me dava a sensação de ser quase física na pessoa de alguma hóspede.
Quase chamava: "Simone" mas, sem coragem de fazê-lo, recolhia-me ao mundo de minha fantasia.
Não saberia o que fazer se a hóspede se voltasse e dissesse:
- Sim?

sábado, 13 de setembro de 2014

O Deslumbramento pela Europa : Troca Justa



Em Paris na zona central não se vêem muitos mendigos ainda que existam num certo número.

Os que se encontram normalmente ocupam os mesmos lugares e parecem ter feito da mendicância uma espécie de atividade regular, regrada, quase institucionalizada.

Cada um deles tem o seu "ponto", o seu horário e , supõe-se, uma arrecadação regular. Agregam-se a outras pessoas que fazem da rua o seu local de trabalho procurando vender alguma coisa que chame a atenção e sensibilize especialmente os turistas pela criatividade ou por algum tipo de comiseração.

Esta senhora costuma ficar na avenida Champs-Élysées sempre acompanhada de seu gatinho que se mostra plenamente adaptado à atividade de sua dona.
De fato ele parece contribuir para o apelo que ela cria para receber suas limosnas.

Procurei aproximar-me para acompanhar a situação mas a mulher não se mostrou muito amistosa.
Só percebi depois o erro meu.
Tivesse lhe dado uma contribuição teria afastado este obstáculo. 
Teria sido, parece, uma troca justa.

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