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sábado, 29 de novembro de 2014

Tucumán con Esmeralda



Minhas viagens não são viagens, são obsessões.

Preciso voltar às mesmas cidades e, em cada cidade, aos mesmos lugares.
Aos mesmos bares, às mesmas livrarias, às mesmas praças, às mesmas ruas e esquinas e paisagens.
Tocar as mesmas coisas, pisar as mesmas pedras, ter a sensação que ainda faço parte do mesmo mundo.  

Preciso me sentir como se tivesse vivido nestes lugares a vida inteira, preciso ser parte deles até que neles me apontem e digam que me conhecem, até que ali procurem por mim. .
Não importa que sejam lugares anônimos, aliás quanto mais anônimos mais serei parte deles e serei eu mesmo.

E se me sentir à vontade para sentar à uma mesa, pedir um café e me pôr a escrever algumas linhas , isto pode ser o início do caminho para a eternidade e para a liberdade.

Por isto volto constantemente ou nem chego a sair destes lugares, que às vezes são lugares imersos na sombra e na melancolia, à espera que alguém vindo da rua entre pela porta como uma revelação, envolvido numa luz radiante, e às suas costas se abra um grande caminho de vidência e felicidade.

P.R.Baptista
Buenos Aires

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Festival de Jazz de Pelotas




Pelotas acaba de vivenciar, durante 3 dias, uma lua de mel do jazz com a cidade.
É o tempo que durou o Pelotas Jazz Festival ( traduzindo, Festival de Jazz de Pelotas) , terceira edição de uma proposta que surgiu em 2010 por intermédio do Clube de Jazz a partir das "jams" mantidas pelo grupo , de fato um quinteto, formado por Daniel Zanotelli (saxofone e flauta), Guilherme Ceron (baixo), Renato Popó (bateria), Gustavo Otesbelgue (guitarra) e Eduardo Varela (piano), todos músicos pelotenses.
A eles o mérito da iniciativa  interrompida durante 2011 e 2012, retomada em 2013 e consagrada este ano.

foto Marcelo Soares
Na edição deste ano o evento contou com um espaço privilegiado incrustado no centro histórico da cidade com a destinação para sua realização não só do magnífico Theatro Guarany  mas de uma área externa constituída pelo quarteirão à sua frente que se denominou Rua do Jazz.
Entre os artistas que se apresentaram grandes exponentes da música brasileira como João Bosco, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos.
Um evento que se destina a ficar, supõe-se agora definitivamente, como um marco da maior expressão cultural.



video Marcelo Soares

terça-feira, 18 de novembro de 2014

"O Sol nascendo prá mim ! "

foto Marisa Goulart
Esta é a rua da Marisa.
Se acorda cedo a vê vazia como nesta foto e quando o Sol desponta, parecendo querer invadir a rua, é ela que o recebe.
Como diz é " o sol nascendo prá mim ! " 

Neste momento a rua parece deixar-se ficar em comunhão com o universo, a ausência de seres humanos aumentando a sensação de total integração com um mundo transcendental.

E pode-se pensar que de todas as ruas do mundo, neste momento, a rua de Marisa, na minha cidade, é a mais iluminada de todas, tomada por uma luz sideral, como se anunciasse o nascimento de um tempo inteiramente novo no qual, ao fim, todos emergissem de suas casas num estágio superior de suas existências.

Neste momento, contudo, toca um despertador, um carro passa, um transeunte surge na esquina, a primeira janela se abre e, aos poucos, à medida que o mundo humano volta a ocupar seu espaço, a rua de Marisa já não é só sua e a beleza e a transcendentalidade de poucos minutos antes, começa a perder importância.

Até que, por fim, desfeito o encanto, cabe ficar esperando pelo outro dia quando, de novo, nossas esperanças e nossos sonhos de eternidade possam voltar a reviver.  

P.R.Baptista


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Rio, até mais !



Há basicamente, entre todas existentes, dois tipos de cidades no mundo.
As que tem e as que não tem mar e, especialmente, praia e, mais especialmente ainda, praias atraentes.
Isto é o que distingue no Brasil, por exemplo, o Rio de Janeiro de outras cidades como São Paulo, Belo Horizonte , Brasilia e Curitiba ou, considerando as que tem algum tipo de praia, Porto Alegre.     
Ou que a distingue, no exterior, de Londres, Paris, Praga e Madri por exemplo. 
É também o que a aproxima de Montevideo, Florianópolis, as capitais nordestinas, Los Angeles, Lisboa, mantendo, contudo, o Rio, uma certa singularidade pela magnífica beleza natural de suas praias inseridas dentro de um ambiente fortemente urbano. 
É preciso também considerar o clima que no Rio permite frequentar a praia o ano todo.

No caso do Rio esta relação assume ainda um aspecto todo especial pelo fato de ser uma metrópole que mantém todas as relações de uma grande cidade e de ter sido, a reforçar isto, capital do Império e da República.
Ou seja é uma cidade econômica e culturalmente muito importante.
Todos estes aspectos ajudam a entender a cultura dentro da qual se movimenta o carioca.

Ao final de semana, já na manhã de sábado, começa lentamente um movimento de moradores que vem de todos os locais, de metrô ou outras formas de transporte, para concentrar-se nas praias da Zona Sul.

Chegar cedo na praia de Copacabana permite acompanhar estes movimentos.
Sento na mesa de um dos barzinhos e tranquilamente, a beber primeiro água de coco e depois cerveja. vejo um mundo mover-se à minha frente.
Um verdadeiro filme.

De início chama-me a atenção um grupo de quatro pessoas, aparentemente dois casais, que chegam ocupando uma mesa de frente para a praia na qual se acomodam olhando o movimento.
Depois a mãe que chega trazendo a filha de meses no carrinho, pede alguma coisa para beber e fica por ali um tempo dando atenção à criança.



Enquanto isso uma fila de vendedores ambulantes vai passando à minha frente vendendo óculos, bijuteria, chapéus, cangas, amendoim, um desfile sem fim.
Um destes vendedores é Rodrigo vendedor de cangas.
Enquanto fica por ali organizando seu material , uma verdadeira loja que carrega em cabides sobre os ombros, converso com ele. 
Veio da Bahia, de Feira de Santana, por ocasião da visita do Papa e não retornou.
Mora na Ilha Grande. Deixou a mulher e filhos para trás mas diz pretender trazê-los assim que for possível. 
É um escravo da sorte, diz não saber quanto lhe fica de dinheiro cada dia, não é difícil supor que não pode adoecer.


Ficaria ali o dia inteiro, observando este desfile de tipos, de situações, de casos de vida.
Conversando com cada pessoa, tentando acompanhar e entender estes universos em que se movimentam os seres humanos.

Enquanto isso, no meio da praia numa barraca cercada de utensílios e objetos, tremula a bandeira do Flamengo.
É a bandeira da nação rubro-negra.
Devem pedir passaporte para quem quiser aproximar-se.



Preciso no entanto voltar, a viagem é daqui a pouco.
Os observadores do mar já se foram há bastante tempo e no espaço em que se encontravam restaram as mesas e as cadeiras vazias.  
O cenário vai mudando, a vida vai passando.
Ainda penso em ir caminhando até a estátua de Drummond de Andrade, não é longe, na direção de Ipanema.
Mas esta forma que encontraram de homenagem me deixa um pouco deprimido.
Fico pensando como o poeta reagiria, afinal não é algo que lhe consultaram em vida.
Acabo, assim, desistindo. 
Mas esta manhã, anódina manhã na vida carioca, ficará registrada a partir de agora para sempre, nesta espécie de memória, resistindo ao desaparecimento das coisas, viva, muito viva, tão viva quanto pode permanecer tudo aquilo que nos rodeia, tudo aquilo que amamos e não queremos perder.
Rio, até mais! 


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Manhã Carioca















É cedo no Rio.

Na Cinelândia  os cariocas começam a dedicar-se  a mais um dia de atividades retomando suas rotinas.
Nos bares é o momento  de desempilhar as cadeiras e pô-las na rua, fazer as faxinas e tomar as primeiras providências necessárias ao andamento dos negócios.
Zeloso do brilho de seus sapatos um senhor, de terno, coloca-os aos cuidados de um engraxate, antes de seguir seu caminho para o expediente.

O dia , nublado, é agradável e o  clima pode ser  entendido como ameno nesta manhã de primavera.
Mas sempre será melhor no inverno.

Ontem à noite o Flamengo foi derrotado em Belo Horizonte para o Atlético, 4 x 1 .
É o assunto do dia.
Um colega de curso, carioca, flamenguista , me conta que em seu prédio o porteiro imita um galo quando ele passa. 
O símbolo do Atlético, é bom lembrar, é um galo.
Ele se diverte contando.
Eu tenho que achar graça.

Enfim, o Rio vai levando sua vida de ex-capital do Império e da República.
Parece sem pressa como se desfrutasse de uma sabedoria própria que um visitante eventual talvez não consiga perceber num primeiro momento.
Mas, pelo menos, deve-se tentar.









A mão estendida de Carlos Gomes


Entre o hotel na Cinelândia e, bem perto ,  o local de um encontro de jornalismo, passo a todo momento pela frente do Teatro Municipal no Rio.
 Carlos Gomes está sempre ali, o braço esquerdo estendido para o lado na posição, não cheguei a concluir, de convidar para o público entrar no teatro ou, talvez, de sinalizar à uma orquestra imaginária o início de um concerto.



Enquanto isso uma pomba ,à qual estas dúvidas devem parecer irrelevantes, aproveita a cabeça da estátua como ponto de descanso e de observação.

Ou talvez interprete que o  braço assim estendido é um convite para que os pombos encontrem ali um lugar de pouso.

Enfim, divagações irrelevantes de quem talvez preferisse estar em Pelotas sentado no Central Café na companhia da Maga e de amigos..