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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Rio, até mais !



Há basicamente, entre todas existentes, dois tipos de cidades no mundo.
As que tem e as que não tem mar e, especialmente, praia e, mais especialmente ainda, praias atraentes.
Isto é o que distingue no Brasil, por exemplo, o Rio de Janeiro de outras cidades como São Paulo, Belo Horizonte , Brasilia e Curitiba ou, considerando as que tem algum tipo de praia, Porto Alegre.     
Ou que a distingue, no exterior, de Londres, Paris, Praga e Madri por exemplo. 
É também o que a aproxima de Montevideo, Florianópolis, as capitais nordestinas, Los Angeles, Lisboa, mantendo, contudo, o Rio, uma certa singularidade pela magnífica beleza natural de suas praias inseridas dentro de um ambiente fortemente urbano. 
É preciso também considerar o clima que no Rio permite frequentar a praia o ano todo.

No caso do Rio esta relação assume ainda um aspecto todo especial pelo fato de ser uma metrópole que mantém todas as relações de uma grande cidade e de ter sido, a reforçar isto, capital do Império e da República.
Ou seja é uma cidade econômica e culturalmente muito importante.
Todos estes aspectos ajudam a entender a cultura dentro da qual se movimenta o carioca.

Ao final de semana, já na manhã de sábado, começa lentamente um movimento de moradores que vem de todos os locais, de metrô ou outras formas de transporte, para concentrar-se nas praias da Zona Sul.

Chegar cedo na praia de Copacabana permite acompanhar estes movimentos.
Sento na mesa de um dos barzinhos e tranquilamente, a beber primeiro água de coco e depois cerveja. vejo um mundo mover-se à minha frente.
Um verdadeiro filme.

De início chama-me a atenção um grupo de quatro pessoas, aparentemente dois casais, que chegam ocupando uma mesa de frente para a praia na qual se acomodam olhando o movimento.
Depois a mãe que chega trazendo a filha de meses no carrinho, pede alguma coisa para beber e fica por ali um tempo dando atenção à criança.



Enquanto isso uma fila de vendedores ambulantes vai passando à minha frente vendendo óculos, bijuteria, chapéus, cangas, amendoim, um desfile sem fim.
Um destes vendedores é Rodrigo vendedor de cangas.
Enquanto fica por ali organizando seu material , uma verdadeira loja que carrega em cabides sobre os ombros, converso com ele. 
Veio da Bahia, de Feira de Santana, por ocasião da visita do Papa e não retornou.
Mora na Ilha Grande. Deixou a mulher e filhos para trás mas diz pretender trazê-los assim que for possível. 
É um escravo da sorte, diz não saber quanto lhe fica de dinheiro cada dia, não é difícil supor que não pode adoecer.


Ficaria ali o dia inteiro, observando este desfile de tipos, de situações, de casos de vida.
Conversando com cada pessoa, tentando acompanhar e entender estes universos em que se movimentam os seres humanos.

Enquanto isso, no meio da praia numa barraca cercada de utensílios e objetos, tremula a bandeira do Flamengo.
É a bandeira da nação rubro-negra.
Devem pedir passaporte para quem quiser aproximar-se.



Preciso no entanto voltar, a viagem é daqui a pouco.
Os observadores do mar já se foram há bastante tempo e no espaço em que se encontravam restaram as mesas e as cadeiras vazias.  
O cenário vai mudando, a vida vai passando.
Ainda penso em ir caminhando até a estátua de Drummond de Andrade, não é longe, na direção de Ipanema.
Mas esta forma que encontraram de homenagem me deixa um pouco deprimido.
Fico pensando como o poeta reagiria, afinal não é algo que lhe consultaram em vida.
Acabo, assim, desistindo. 
Mas esta manhã, anódina manhã na vida carioca, ficará registrada a partir de agora para sempre, nesta espécie de memória, resistindo ao desaparecimento das coisas, viva, muito viva, tão viva quanto pode permanecer tudo aquilo que nos rodeia, tudo aquilo que amamos e não queremos perder.
Rio, até mais! 


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