Na segunda feira, terceiro dia em Lisboa, decido sair cedo para ir até a "A Brasileira"
Na noite da véspera , na porta, prefiro não entrar.
Muita agitação devido ao fato que uma cantora se apresentava na rua em frente.
Desgostou-me também a forma como os turistas se comportavam com relação à estátua de Fernando Pessoa.
Num dado momento, naquele ambiente, pareceu-me que ela se tornara o próprio poeta, transformado num destes onipresentes artistas de rua que imitam estátuas, observando entristecido o tumulto ao redor.
Os turistas, indiferentes, tiravam fotos fazendo todo tipo de poses sem ter em grande parte muita noção de sua obra.
Por isto não fiquei mais tempo e decidi voltar na manhã do dia seguinte.
Meu plano, no entanto, toma outro rumo.
Saio caminhando em direção à parte alta., passo pela Mouraria e acabo na Alfama., bem distante portanto de "A Brasileira".
Foi literalmente por estas alturas que encontro a Flor de São Mamede.
No momento em que me aproximo, ainda sem saber o nome, só pude perceber que era um café, bem simples, numa esquina de Lisboa e do mundo.
Tiro uma foto e sigo adiante.
Vou até um ponto bem alto e sem ter mais para onde subir, dou volta.
No caminho decido perguntar a um senhor que cruza comigo o nome da rua.
-- Sabe que não sei, passo aqui todos os dias e não sei, responde sem interromper o passo.
A resposta , apesar de curiosa, nem chegou a me surpreender.
Logo dei-me conta de que o mundo em que aquele homem vivia era tão restrito, tinha limites tão pequenos que tornava desnecessário referencias mais amplas.
Identificar o nome de uma rua pela qual poucas pessoas deviam transitar para ele talvez não fosse tão importante até porque nunca teria se afastado.

Desço mais um pouco e estou de novo na frente do café.
Confesso que cheguei a ficar em dúvida se entrava , na frente não tinha sequer uma placa mas algo me atraía e, depois me dei conta, encontraria um significado para que o fizesse.
Entro, portanto, e logo observo que atrás do balcão um velho maneja a máquina de café enquanto uma mulher, mais moça do que ele, atende.
Peço um café, pedido que é uma espécie de senha quando se quer adentrar o ambiente de um bar que não se conhece.
A mulher já me estende um envelope com açúcar e, em seguida, o café.
Enquanto tomo o café foram entrando outras pessoas que pela conversa e pela familiaridade com os donos, deviam ser frequentadores .
Acabo trocando algumas palavras com a mulher que me explica que apenas seu pai, o senhor que manejava a máquina, já estava ali há quase cinquenta anos, depois de outros donos.
Ao perguntar-lhe o nome do café, responde
- Flor de São Mamede.
E acrescenta, justificando-se, que ainda nem tinha placa indicativa.
Talvez, decerto, sou levado a pensar, porque não fazia falta.
Estou já saindo quando a filha me alerta para pegar o tíquete.
“ Para ficar com o nome do café” me diz , como se pudesse ser importante.
É estranho mas senti naquele momento como se ela tivesse percebido alguma coisa em minhas intenções.
Como uma premonição.
"A Brasileira" ? Bem, ao final, acabo indo a "A Brasileira" na noite do outro dia.
Fernando Pessoa estava lá , estático, exposto ao tempo e condenado a viver sua existência de bronze.
Fernando Pessoa, Lisboa: a estátua esculpida em bronze do poeta português Fernando Pessoa divide espaço com as mesinhas ao ar livre dispostas em frente ao tradicional café A Brasileira, no Chiado, bairro lisboeta onde Pessoa nasceu. Criada pelo artista Antônio Augusto Lagoa Henriques, a obra foi inaugurada em 13 de julho de 1988, por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa.
Na noite da véspera , na porta, prefiro não entrar.
Muita agitação devido ao fato que uma cantora se apresentava na rua em frente.
Desgostou-me também a forma como os turistas se comportavam com relação à estátua de Fernando Pessoa.
Num dado momento, naquele ambiente, pareceu-me que ela se tornara o próprio poeta, transformado num destes onipresentes artistas de rua que imitam estátuas, observando entristecido o tumulto ao redor.
Os turistas, indiferentes, tiravam fotos fazendo todo tipo de poses sem ter em grande parte muita noção de sua obra.
Por isto não fiquei mais tempo e decidi voltar na manhã do dia seguinte.
Meu plano, no entanto, toma outro rumo.
Saio caminhando em direção à parte alta., passo pela Mouraria e acabo na Alfama., bem distante portanto de "A Brasileira".
Foi literalmente por estas alturas que encontro a Flor de São Mamede.
No momento em que me aproximo, ainda sem saber o nome, só pude perceber que era um café, bem simples, numa esquina de Lisboa e do mundo.
Tiro uma foto e sigo adiante.
Vou até um ponto bem alto e sem ter mais para onde subir, dou volta.
No caminho decido perguntar a um senhor que cruza comigo o nome da rua.
-- Sabe que não sei, passo aqui todos os dias e não sei, responde sem interromper o passo.
A resposta , apesar de curiosa, nem chegou a me surpreender.
Logo dei-me conta de que o mundo em que aquele homem vivia era tão restrito, tinha limites tão pequenos que tornava desnecessário referencias mais amplas.
Identificar o nome de uma rua pela qual poucas pessoas deviam transitar para ele talvez não fosse tão importante até porque nunca teria se afastado.

Desço mais um pouco e estou de novo na frente do café.
Confesso que cheguei a ficar em dúvida se entrava , na frente não tinha sequer uma placa mas algo me atraía e, depois me dei conta, encontraria um significado para que o fizesse.
Entro, portanto, e logo observo que atrás do balcão um velho maneja a máquina de café enquanto uma mulher, mais moça do que ele, atende.
Peço um café, pedido que é uma espécie de senha quando se quer adentrar o ambiente de um bar que não se conhece.
A mulher já me estende um envelope com açúcar e, em seguida, o café.
Enquanto tomo o café foram entrando outras pessoas que pela conversa e pela familiaridade com os donos, deviam ser frequentadores .
Acabo trocando algumas palavras com a mulher que me explica que apenas seu pai, o senhor que manejava a máquina, já estava ali há quase cinquenta anos, depois de outros donos.
Ao perguntar-lhe o nome do café, responde
- Flor de São Mamede.
E acrescenta, justificando-se, que ainda nem tinha placa indicativa.
Talvez, decerto, sou levado a pensar, porque não fazia falta.
Estou já saindo quando a filha me alerta para pegar o tíquete.
“ Para ficar com o nome do café” me diz , como se pudesse ser importante.
É estranho mas senti naquele momento como se ela tivesse percebido alguma coisa em minhas intenções.
Como uma premonição.
"A Brasileira" ? Bem, ao final, acabo indo a "A Brasileira" na noite do outro dia.
Fernando Pessoa estava lá , estático, exposto ao tempo e condenado a viver sua existência de bronze.
Fernando Pessoa, Lisboa: a estátua esculpida em bronze do poeta português Fernando Pessoa divide espaço com as mesinhas ao ar livre dispostas em frente ao tradicional café A Brasileira, no Chiado, bairro lisboeta onde Pessoa nasceu. Criada pelo artista Antônio Augusto Lagoa Henriques, a obra foi inaugurada em 13 de julho de 1988, por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa.
Um comentário:
As flores de São Mamede não têm cheiro mas sabem a café!
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